quinta-feira, 3 de março de 2011

Criança estressada. Existe?


Aprender a lidar com o stress é muito importante para a criança.
A criança que não aprende a lidar com situações estressantes têm maior probabilidade de se tornar um adulto altamente vulnerável ao stress, fragilizado e consequentemente mais vulnerável a enfermidades cujas origens partem do stress, entre elas está à “depressão”.
Por esse motivo, é de suma importância que os pais ensinem desde cedo os seus filhos a lidarem com tensões, perdas e frustrações. O problema é quando os pais ou um dos pais já vive um momento estressante e/ou depressivo. Para pais estressados ou deprimidos os cuidados devem ser dobrados. Em alguns casos é indispensável uma ajuda profissional para a família, pois um membro doente na família abala toda ela, principalmente os filhos em formação.
O fato é que pais estressados tendem a ajudar a formarem filhos estressados, pois passam um modelo negativo aos seus filhos.
Por esse motivo podemos considerar pais os primeiros “professores” dos seus filhos. Através de atitudes e comportamentos dos pais, os pequenos começam a aprender como se comportar e lidar com certas situações. Crianças necessitam de modelos adequados para lidar com as adversidades e problemas da vida. Por esse motivo, pais e professores possuem um papel importante na prevenção do stress infantil.
Infelizmente alguns pais se confundem e acreditam que ajudar seus filhos com o stress é poupá-los de toda e qualquer tipo de frustração, por isso acabam satisfazendo todas as vontades e caprichos dos filhos. Fazem de tudo, até mesmo permitir que seus filhos lidem com situações consideradas perigosas. Na verdade essa atitude também está ligada na maior parte das vezes com uma dificuldade maior dos pais do que dos filhos. É um caso a ser discutido em outro momento, mas está ligado a uma angústia maior do pai/mãe e conseqüentemente a dificuldade de ajudar os filhos a lidarem com a sua angústia toma uma proporção maior. Falaremos deste detalhe em outra oportunidade.
É importante enfatizar que essa exposição a qual me refiro deve ser proporcional ao estágio de desenvolvimento, maturidade e resistência desta criança. É preciso deixar claro também que uma criança excessivamente poupada não tem chances de se preparar para o mundo estressante que vivemos hoje, entretanto uma criança exposta a fatores estressantes em demasia diminui de forma considerável a oportunidade de adquirir estratégias de enfrentamento de forma gradual e lógico.
São vários os fatores que podem desencadear stress em uma criança. Seguem alguns deles:
  • Mudanças significativas ou estressantes;
  • Responsabilidade em excesso;
  • Excesso de atividades;
  • Brigas ou separações dos pais;
  • Cobrança excessiva de algumas escolas;
  • Morte na família, principalmente de pais ou irmãos;
  • Exigência ou rejeições por parte de pessoas próximas;
  • Disciplina confusa por parte dos pais;
  • Doença ou internação de pessoas próximas;
  • Nascimento de irmãos;
  • Injustiça por parte dos pais;
  • Troca de professores ou escolas;
  • Medo de pai alcoólatra;
  • Mudança de babá ou cuidador;
  • Mudança de vizinhança;
  • Pais ou professores estressados;
  • Doença mental dos pais.

Falarei de alguns fatores que acredito necessitar de uma atenção especial.
As cobranças exageradas aos alunos nas escolas podem fazer com que a criança se sinta incapaz por não conseguir acompanhar essas exigências e consequentemente ter que assumir o “fracasso” escolar diante dos pais, colegas e professores. A competição exagerada e muitas vezes exposição excessiva das suas dificuldades para colegas, constrange, inibe e estressa os pequenos.
A morte na família também é um fator de peso, principalmente se esta morte for de um dos pais ou de um irmão. Começamos a vida com uma perda. Somos lançados para fora do útero sem “nada”. Deixamos ou somos tirados de um lugar quentinho e seguro para fazer parte de um mundo o qual nada temos. Sem saber se defender, sozinho, tendo que suportar na caminhada várias perdas e vários aprendizados para que no futuro ainda distante possamos quem saber suportar a dor da perda que a morte nos trás.
Quando a morte chega antes de passarmos por algumas perdas necessárias a dificuldade de lidar com ela é maior, principalmente quando a morte leva aqueles ou um daqueles que nos ajudaria a suportar tal angústia.
Outro fator que vamos enfatizar aqui é a disciplina confusa por parte dos pais. Esse é sem soma de dúvida um fator muito estressante para a criança.
Alguns pais como já falado anteriormente são muito permissivos, deixam os filhos fazer praticamente tudo. Principalmente por não agüentar a angústia dos filhos. Entretanto em alguns momentos, por estar estressado, com muito trabalho, depressivo, ansioso, angustiados ou por vários outros motivos acabam descarregando nos filhos. Essa descarga aparece em momentos em que as crianças estão fazendo algo “errado”.  O pior é que aqueles pais  super permissivos acabam brigando por algo que anteriormente, a algumas horas atrás , por exemplo deixaria fazer sem problema algum. Essa atitude faz com que a criança fique muito confusa e não consiga entender porque alguns minutos atrás ela fez a mesma coisa e foi aplaudida e reforçada através da permissividade dos pais, e agora ela está sendo corrigida verbalmente, com gritos e/outras formas de correções, até mesmo agressivas.
A criança terá dificuldade em distinguir o que é certo e errado, e conseqüentemente irá reforçar negativamente a relação com esse cuidador.
Outro exemplo é quando os pais possuem opiniões diferentes entre as normas corretas de educar seus filhos. Quando um fala uma coisa e outro discorda tudo ou de quase tudo, principalmente na frente desta criança.
O pai muito cordato e permissivo obriga a mãe assumir o papel de ruim e malvada. Aquela que só tira e nada dá. Causando uma enorme confusão na cabeça da criança.
Esses são sem soma de dúvidas fatores extremamente estressantes para uma criança, pois os pais acabam não oferecendo uma base firme em que a criança possa se apoiar em momentos difíceis da sua pequena vida, dificultando um relacionamento de confiança com seus pais.
Por último gostaria de enfatizar um outro fator estressante, a doença mental de um dos pais. Mas, deixaremos para outra oportunidade.


Psicóloga Clínica